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Àrea Tecnica => Motor => Tópico iniciado por: Rui em 23 de Março de 2011, 16:45 pm
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Binário e potência
Quando se fala de automóveis, falamos inevitavelmente, de binário e de potência (mais a potência). E como muitas vezes este assunto gera algumas "discussões" do tipo "vou mexer no binário mas não toco nos cavalos" ou "não me interessa o binário, eu quero é cavalos com fartura", vamos a factos.
Mas afinal, o que são cada um deles e como estão relacionados?
O Binário
O binário é a força que o motor produz e que permite ao carro acelerar. A aceleração é o incremento da velocidade num determinado espaço de tempo. É a força que se sente a empurrar as nossas costas quando o carro começa a puxar.
Um carro é mais rápido a acelerar, em qualquer mudança, na faixa de rotação em que tem mais binário. Abaixo ou acima dessa rotação a aceleração é inferior.
Imaginemos 2 motores distintos: no 1º, temos 150 Nm disponíveis às 3000rpm; no 2º, temos os mesmos 150 Nm mas às 6000rpm. Apesar de no segundo caso produzir o dobro da potência (a potência é produto do binário pela rotação), o poder de aceleração que vamos sentir nos 2 casos vai ser idêntico, uma vez que o binário é igual (considerando que se usa um escalonamento de caixa idêntico), logo a potência do ponto de vista do condutor é irrelevante. No 1º caso, o carro teria 62,84 cv/3000rpm e no 2º, 125,69 cv/6000rpm. Ou seja, o impulso de aceleração sentido não é a potência que o causa, mas sim o binário.
Teste prático:
Experimentem pôr o vosso carro perto da faixa de rotação em que tem mais binário e acelerem a fundo. De seguida metam-no na faixa de rotação em que tem mais potência e acelerem a fundo. A aceleração é mais forte na faixa de rpm com mais binário, apesar de ter menos potência nesse regime.
O que é necessário para se conseguir a velocidade máxima de um veiculo?
É necessária a conjugação do melhor binário possível aliado à mais alta rotação possível na relação de caixa em que tal é possível conciliar (pode não ser a mudança mais alta). Mais uma vez, se a potência é grande, então é porque temos muito binário e rotação. Não vai ser a potência que nos vai empurrar o carro, mas aquele binário disponível a alta rotação e que nos permite realizar a potência .
Portanto, o binário é o que faz o carro andar, seja depressa ou devagar; a potência é o trabalho realizado.
Gasolina vs Diesel
Por outro lado, 2 carros de potência igual não têm, necessariamente, a mesma distribuição das performances nem os mesmos comportamentos, pelas razões atrás referidas. Na maioria dos casos aproximam-se, mas não são iguais, pois podem ter vantagens em regimes de rotação distintos.
Os carros a diesel, por exemplo, têm performances parecidas com os a gasolina de potência semelhante, quando as distribuições de binário e regimes de utilização são completamente diferentes.
Os diesel são menos rotativos, por isso têm de recorrer a caixas mais longas que desmultiplicam muito o binário que chega as rodas. Os a gasolina têm melhor binário a rotações mais altas, o que permite o uso de caixas mais curtas.
Por outro lado os diesel têm muito mais binário que um carro a gasolina, por isso se podem dar ao luxo de ter uma caixa mais longa. Um carro a diesel puxa muito em baixa/média rotação, mas perde em alta porque faz menos rotações. Um motor a gasolina tem menos binário, mas uma faixa de utilização mais ampla.
Em resumo, as principais diferenças são: nas recuperações e ultrapassagens, os diesel são superiores. Nos a gasolina é preciso trabalhar mais com a caixa, mas em performance pura são superiores, porque permitem um maior aproveitamento da caixa e um regime alargado de utilização.
No entanto, não quer dizer que o resultado final seja muito diferente. Se ambos os veículos tiverem a mesma potência máxima, peso, relações de caixa e coeficiente de penetração, o trabalho realizado será idêntico
Por último imaginem o funcionamento de um motor. No momento em que se dá a combustão/explosão é libertada energia. Há uma força, provocada pela expansão dos gases, que empurra o êmbolo fazendo girar a cambota. Essa força é o binário! As vezes que isto acontecer num determinado intervalo de tempo, é potência.
A potência é o trabalho realizado pelo binário.
Agora calculem a potência
Se quiserem calcular a potência que o vosso carro tem a partir de um dado binário e regime, a formula é a seguinte: P= (Binário x rotação)/7160 .
Basta terem a curva de binário ao longo dos diversos regimes para determinarem a curva de potência para esses mesmos regimes.
Nota: o valor 7160 é uma constante para que o resultado deste produto venha em CV.
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Ámen Rui! :D
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Excelente artigo :happy:
Muito bem :grin:
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Rui!
Estás lá!
5 estrelas! :smiley:
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limpinho :grin: :grin:
Cinco estrelas Par o Xô Rui
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Muito boa esta info. :happy:
5 estrelas. :smiley:
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Maneira muito mais facil de entender:
Subviragem é quando bates com o carro de frente no muro...
Sobreviragem é quando bates com o carro de traseira no muro...
Potência/cvs é a velocidade a que bates com o carro no muro...
Binário é até onde consegues levar o muro contigo...
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Informação 5* :dance:
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Maneira muito mais facil de entender:
Subviragem é quando bates com o carro de frente no muro...
Sobreviragem é quando bates com o carro de traseira no muro...
Potência/cvs é a velocidade a que bates com o carro no muro...
Binário é até onde consegues levar o muro contigo...
Tiveste bem! :laugh:
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Muito bom este tópico, sabia assim por alto o que era o binário e a potência, com a ajuda deste tópico fiquei mais esclarecido! Muito obrigado! :happy:
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Boa explicação sobre esta matéria.
No entanto tenho uma observação. Se a melhor aceleração é conseguida num regime em que o binário é mais elevado, então porque é que, por exemplo para se chegar dos 0 aos 100 km/h se consegue melhores resultado utilizando a rotação onde a potência é mais elevada e não onde o binário é mais alto? Isto é especialmente verdade num turbo diesel, onde o melhor binário é por volta das 2000 rpm, e a melhor potência por volta das 4000 rpm.
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Depende dos carros. Há dieseis que a 4000 já só vão a moer material lool
Mesmo assim, nas rotações altas que falas nos dieseis, o binário não é inexistente mas sim mais fraco e a troca de velocidade é tempo que se perde, certo? Isto sou eu a especular.
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Na aceleração temos de ter em conta a faixa de rotação ideal. Num diesel a melhor forma é levar até perto das 3500/4000 e depois mudar de mudança pois a rotação irá cair para os valores ideais com mais binário...
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Exactamente de acordo contigo :cool:
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Na aceleração temos de ter em conta a faixa de rotação ideal. Num diesel a melhor forma é levar até perto das 3500/4000 e depois mudar de mudança pois a rotação irá cair para os valores ideais com mais binário...
Eu eu que mudo logo para uma mudança acima mal ande nas 1500/2000rpms, deve ser um defeito meu que não gosto de ouvir os carros a "ganirem muito"...
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Isso é condução económica.
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Claro... E assim se deve conduzir para poupar motor e consumos baixos.. Se queres andar rápido é que subimos a faixa de rotação...
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O recomendado pela renault para uma condução mais ecologica é o seguinte :
1 - Optimize as mudanças de velocidade
- Reduza para 1200 rpm, aproximadamente
- Passe para a velocidade superior antes das 2000 rpm
A 50 km/h, já deverá estar em 4.ª ou em 5.ª.
2 - Opte por uma condução suave
- Mantenha uma velocidade regular a partir dos 40 km/h
- Prefira o travão-motor em vez do pedal de travão
Antecipe-se! Levante o pé do acelerador mais de 50 m antes de um semáforo vermelho.
3 - Controle as acelerações e a velocidade
- Acima de 40 km/h, modere as acelerações
- Acima de 40 km/h, limite as mudanças de velocidade
Ao arrancar, mude rapidamente de velocidade até à 4.ª e estabilize a velocidade logo que possível.
Isto é a recomendação para um carro a gasolina, não sei se é o mesmo para os diesel.
Mas uma coisa que temos que ter em atenção, os nossos carros não são carros de corrida, e se tivermos uma condução à bruta, e a fazer acelerações à parva, a esticar as mudanças até ao red line , e etc (estou a exagerar, eu sei :tongue:), depois o resto do material é que sofre, e depois não se venham queixar, que ficam sem embraiagem, que as transmissões ficam cheias de folga, ou partem, que os bi-massa são um balúrdio, etc
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"A 50 km/h, já deverá estar em 4.ª ou em 5.ª." Fazer isto num clio III 1.2 75cv, sujeitaste a soluços lol
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Num Clio III dCi 86 também é complicado. Vai a esforçar o motor sem necessidade alguma.
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Para uma condução económica o principal é fazer as trocas de mudança de forma a não fugir muito aos regimes em que o binário é de pelo menos 70% do seu valor máximo. Ora isso depende em muito da curva de binário do motor e das relações de caixa.
O que é comum para um diesel é trocar de caixa quando se ultrapassam as 2000 rpm. Para um motor a gasolina o mesmo é válido ás 3000 rpm.
Não adianta trocar de mudança antes destes regimes pois o mais natural é a rotação do motor cair para um valor em que o binário é baixo e em consequência disso acaba por consumir mais.
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Eu consigo fazer isso no meu :laugh: atenção que aquilo é a recomendação da MyRenault.pt, e esse texto é capaz de ser generalista, e não especifico para todos os modelos.
Eu já experimentei e coloco a 5 quando estou a chegar aos 50 km/h e não sinto problemas nenhuns, tens é que fazer trocas de mudanças rápidas sem esticares muito o motor.
E depois consegues manter na casa dos 50 sem acelerares quase nada, mas depois se quiseres subir para cima dos 50 rapidamente, tens que reduzir para quarta, mas se quiseres trabalhar para a média e cumprir com os limites, deixas-te estar na quinta e vais acelerando progressivamente que ele aguenta-se muito bem. ;)
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Regra nº 1 da condução económica:
- Não usar o carro.
Posso "fechar o tópico"? :laugh:
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A explicação sobre binária e potência está correcta com excepção da explicação de quando o carro é mais rápido a acelerar:
Um carro é mais rápido a acelerar, em qualquer mudança, na faixa de rotação em que tem mais potência e não mais binário.
O exemplo dos 2 motores distintos: no 1º, temos 150 Nm disponíveis às 3000rpm; no 2º, temos os mesmos 150 Nm mas às 6000rpm.
O 2º é mais rápido a acelerar porque consegue mais potência.
No momento em que se dá a combustão/explosão é libertada energia. Há uma força, provocada pela expansão dos gases, que empurra o êmbolo fazendo girar a cambota. Essa força é o binário! As vezes que isto acontecer num determinado intervalo de tempo, é potência.
Logo a acelaração é superior no 2º motor porque existem o dobro das explosões, cada uma produz a mesma força(150Nm). Logo o resultado conseguido é logicamente superior.
Utilizando o exemplo anterior a energia libertada pela combustão/explosão produz uma força de 150 Nm vezes 3000 = trabalho total conseguindo ou potência, neste caso 62.8 CV. No 2º motor, se produz a mesma força(150Nm) mas 6000 vezes, o trabalho conseguido é o dobro ou seja 125,7CV.
Imagine que vai no seu carro a diesel a 80 Km/h em 5ª, e a cerca de 2000 rpm, que é mais ou menos a rotação em que o seu carro tem maior binário. E agora quer aumentar o mais rápidamente possivel a velocidade até aos 120 km/h. Conte quantos segundos demora. Agora faça o mesmo mas na 4ª mudança, e verá que foi mais rápido até aos 120 km/h, embora o motor tenha trabalhado em rotações mais elevadas onde o binário é mais baixo. No entanto conseguiu uma acelaração superior porque feitas as contas a potência disponivel era superior neste caso.
Por isso maior potência equivale a maior acelaração. E não apenas maior binário maior aceleração.
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esse exemplo da comparação da 4ª e da 5ª, não faz sentido... pelo simples motivo em que a desmultiplicações da caixa vão ser diferentes consoante a mudança. pegando no seu exemplo:
o carro em 5ª as 2000rpm está na faixa de maior binário naquela mudança. porem se você colocar 4ª devido à desmultiplicação da caixa, apesar de ir por exemplo às 3000rpm, o binário que o carro consegue colocar no chão é maior.
daí haver a distinção entre os cálculos da potencia do motor e os cálculos da potencia à roda.
por isso é que o motor desenvolve muito mais rápido em 2ª do que em 6ª.
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Não leves a mal mas é uma prática que não gosto.. Rotações muito baixas criam muita vibração nos motores Diesel. Hoje em dia com motores mais equilibrados e apoios de motor mais competentes não se nota tanto mas antigamente eles tremiam como varas verdes...
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trocar a mudança às 3500/4000 rpm? a essa rotação é para estragra material...a troca faz-se por volta do binario máximo...2000 rpm..digo eu
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O meu dci troca sempre as 4500. Quando partir algum barulho ha-de fazer :laugh:
mas em quase 300mil km desta condução ainda não partiu nada no motor :D
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Igualmente... e a principio era como o Xmarine.. Agora é que ando mais calmo...
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Excelente tópico :clapclap:. Também eu, em tempos, me dei ao trabalho de estudar este assunto.
De facto, noto que as pessoas ligam muito mais à potência e esquecem-se do binário, a tal força instantânea do motor, totalmente responsável ao (bom) arranque e ao desenvolvimento da marcha.
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Eu no meu Megas, troco sempre que posso, ou seja quando não vou distraído, por volta das 2000 RPM'S que é quando a seta no quadrante manda mudar.
Claro que a subir ou carregado, manda mudar mais tarde.
E os consumos agradecem!